Andei por esses dias passeando em São Paulo com minha mulher. Ao dirigir por horas a fio (adoro essa expressão que se tornou lugar comum, por adorar os fios, incluindo os da escrita); sempre medito sobre questões da vida, da morte, do Destino. Nas paradas, ao jogar água fria no rosto e tomar um café, tudo volta ao normal e volto a ser uma espécie de “motorista de Dona Daisy” (como no filme).
Então, tomo um lanche e seguimos viagem, no rumo do caminho traçado. Gosto de dirigir e me divirto viajando com ela. Constato que as andanças que fizemos são várias e variadas. Numa das últimas, palmilhamos o Vêneto, mas resolvemos per fissare la destinazione à Stabiuzzo. As andanças na região estão registradas nas minhas “retinas cansadas” e no cansado Face (visite o link).
Outra oportunidade nos leva à Toscana. Lá, variava o tema para não cansar o leitor de um jornal em que trabalhava de graça, mas não deixava de enviar a correspondência devida, como quando estive em Siena, a terra de origem de Santa Catarina que “dava pito” no Papa e tinha o sangue de Cristo por marca (e eu jurava que Gustavo Corção já nos havia lembrado isso1, mas o que retomo é Bento XVI nos lembrando uma carta da santa em Catequese que está no site do Vaticano:
"Querida irmã em Jesus. Eu, Catarina, serva dos servos de Jesus, escrevo-te no seu precioso sangue, desejosa que te alimentes do amor de Deus e que dele te nutras, como do seio de uma doce mãe. Ninguém, de facto, pode viver sem este leite!
Quem possui o amor de Deus, nele encontra tanta alegria que cada amargura se transforma em doçura e cada grande peso se torna leve. E isto não nos deve surpreender porque, vivendo na caridade, vive-se em Deus: Deus é amor; quem permanece no amor habita em Deus e Deus habita nele” (…)
Faço, pois, outra viagem aqui, de volta a Siena, caminho que segui em companhia de António Machado, o poeta espanhol que foi tão bem editado pelo amigo Mário Zeidler neste volume aqui:
Então, chego e encontro Mário Quintana: “… porquanto a arte do verso é um ramo das artes mágicas” e me encanto com um trecho das odes de Keats, na tradução do amigo Wagner Schadeck:
“Longe! Longe! Contigo eu voaria,
Não na biga de Baco de leopardos;
Mas nas asas invisas da Poesia.2
(…)
E tudo recomeça. Faço viagens mentais, quando chego à casa e reencontro esses livros de Odes. Tenho pensado em escrever uns Cantos (sem rima, sem metro, sem “fôrma”, mas com muito ritmo e musicalidade)…
Ainda de volta a casa, encontro este Murakami, que devoro em algumas horas. Falo disso mais tarde…
Canso-me de relatar isso porque viajar cansa. É muito bom, como se sabe, desde Sinatra, mas o melhor é voltar pra casa. Arrivederci. Até logo. Au revoir. バイバイ
Corção, Gustavo, citado em meu artigo sobre "Lições de abismo” https://www.jornalopcao.com.br/opcao-cultural/destarte/no-caminho-de-siena-1-o-sagrado-e-os-campos-de-castela-106796/
KEATS, John. Ode para um rouxinol (4), trad. Wagner Schadeck, in: “Odes”, Curitiba: Anticítera, 2016, p. 61.