Nesta época do ano, quando a Igreja assinala a celebração do Natal de Jesus, costumo voltar a velhos textos que me inspiram a manter vivo o espírito original do Natal. Assim, releio, com renovada satisfação, os Sermões de Natal de São Bernardo e “Um conto de Natal” do escritor inglês Charles Dickens – um clássico que mostra a transformação de um homem avarento e insensível.
Ambientada numa Londres gelada, às vésperas do Natal, essa história é uma das mais clássicas do gênero, tendo como protagonista o Sr. Scrooge, que se tornou na literatura de língua inglesa o símbolo de avareza e mesquinharia. É um velho solitário, incapaz de emoção diante do Natal, alguém que mantém um olhar de impaciência, inquietude e de ambição desmedida. Um homem sem fé nos valores e virtudes genuínas.
Avisado pelo fantasma do seu ex-sócio, Jacob Marley, que morrera solitário e vítima dos mesmos vícios, Scrooge é visitado por três espíritos, que lhe dão uma chance de se emendar de seu mau comportamento.
O primeiro dos três é o Fantasma dos Natais Passados, que o leva a revisitar cenas de sua própria vida, mostrando-lhe como ele se tornou um homem frio e amargo. O Fantasma do Natal Presente vem a seguir, mostrando as alegrias e dificuldades das pessoas à sua volta. Por último, o Fantasma dos Natais Futuros faz a revelação sombria de que ele morreria sozinho e desprezado.
Sobressaltado com essas visões, Scrooge acorda na manhã de Natal com uma nova perspectiva e decide mudar sua vida, tornando-se generoso e bondoso; melhora as condições de trabalho de seus empregados e passa a espalhar a alegria e a bondade por onde passa. Naturalmente, vai deixando de ser amargo e se tornando mais alegre.
"Um Conto de Natal" é uma história sobre redenção e a compaixão que resgata o verdadeiro espírito do Natal. Um lembrete poderoso a respeito de que nunca é tarde para mudar nossa natureza e fazer o Bem. Dickens demonstra que a generosidade e a bondade podem ter um impacto profundo nas pessoas ao nosso redor, sem a necessidade de gestos grandiosos ou de grandes investimentos financeiros. Mesmo diante das perdas, incertezas, angústias e lágrimas do ano que se finda, sempre podemos encontrar motivos de alegrias. Ou, como diz o Fantasma do Natal Presente:
"Se a doença e a tristeza são facilmente contagiosas, também, por uma justa compensação das coisas deste mundo, nada há de mais irresistivelmente contagioso que o riso e o bom-humor".
O Natal resgata a chance de nos reunirmos com aqueles que amamos para celebrarmos, com atos de gentileza e compreensão, a alegria dos pequenos gestos; é tempo de pensar nos Outros, nos menos favorecidos, e é sempre uma oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores.
Nos seus “Sermões de Natal”, São Bernardo de Claraval anunciava aos monges que o Natal nos coloca diante do nascimento do menino-Deus, aquele que, mesmo tudo possuindo, nasceu num estábulo e foi reclinado numa manjedoura. Por sua humildade, Jesus veio a nós como uma criança para nos dar a Vida.
São Bernardo nos exorta a mantermos as alegrias do Natal, pois Cristo é fonte inesgotável de Sabedoria, de Misericórdia e da Graça eterna para com a Humanidade. Ou, como diz o Espírito do Natal de Dickens:
"É bom, de quando em quando, voltarmos aos tempos de criança, especialmente no Natal, festa cujo próprio divino Fundador é uma criança".
Não tem como não lembrar desse belíssimo conto de Dickens quando chega o Natal... essa época também me faz lembrar do maravilhoso filme "A Felicidade não se Compra".
Lindo, Adalberto!
Não conhecia, me emocionou a frase
Todo Natal é tempo de redenção e compaixão.
Nós render ao que não podemos mudar.
Compaixão com os que não estão presentes a nossa ceia e as nossas vidas - é nossa obrigação trazê-los de volta.
Que seja Natal o ano todo!