Ver o nome do imortal poeta inglês no topo de uma página ou de um cartaz de teatro, sempre nos parece familiar, alguém de quem se recorda pelo menos duas frases, entre as quais “Ser ou não ser – eis a questão”.
Já se passaram 460 anos de seu nascimento e ainda hoje, em pleno século XXI, Shakespeare continua atual, com uma obra viva e relevante, sendo considerado o dramaturgo mais influente do mundo.
O poeta inglês viveu entre sua pequena cidade natal e Londres, sem nunca ter conhecido outros países, e ainda assim foi capaz de imaginar Romeu e Julieta vivendo em Verona, bem como recriar a Itália na nossa imaginação, com precisão impressionante, como o repete em “O mercador de Veneza”.
Suas histórias ainda hoje são lembradas porque foi um escritor capaz de sondar a alma humana e suas contradições sob ângulos atemporais. George Steiner, crítico literário, disse apropriadamente:
“O inventário da experiência de Shakespeare é considerado praticamente insuperável. Que ocupação – a do médico, do advogado, do usurário, do soldado, do navegador, do vidente, da prostituta, do religioso, do político, do carpinteiro, do músico, do criminoso, do santo, do fazendeiro, do mascate, do monarca – escapou à sua percepção?”
Em quase quarenta peças – comédias, tragédias e peças históricas –, Shakespeare faz desfilar centenas de personagens, mostrando a capacidade de descer ao mais fundo da alma humana. Ele inverteu a lógica do teatro porque em suas histórias as pessoas mudam com o tempo e até mesmo em sua relação consigo mesmas.
Os personagens shakespearianos ganham vida e tornam-se ouvintes de si mesmas e de sua voz interior como na célebre frase de Próspero, em A tempestade: "Somos feitos da mesma substância de que são feitos os sonhos; e nossa vida pequenina é cercada pelo sono.""
Essa atmosfera onírica perpassa outras peças, como “Sonho de uma noite de verão”, onde o espírito travesso de Robin (Puck) aparece repercutindo a mitologia e o folclore inglês para animar-nos e desvendar-nos os mistérios da paixão. Assim, Puck cumpre uma função essencial de revelar e amplificar os temas e as experiências amorosas vividas pelos personagens e, consequentemente, por nós próprios, leitores ou espectadores.
Em “Shakespeare: a invenção do humano”, o crítico norte-americano Harold Bloom demonstra como o autor inglês soube criar vozes diferentes, mas consistentes, para mais de cem personagens principais e centenas de personagens menores. São essas vozes que continuamos a ouvir quando assistimos ou lemos (e relemos) suas peças.
Por essa e outras habilidades, Shakespeare é ainda hoje o mais popular dos dramaturgos, aceito por sucessivas gerações de leitores ao redor do mundo. Tendo iniciado como ator quase mambembe, artista ambulante, que viajava com sua companhia teatral em carroças pela Inglaterra, tornou-se hoje o ídolo apreciado em todo o mundo. Certamente, está o leitor diante de um autor apaixonado e genial, que, mesmo sem um projeto literário prévio, foi elevado ao pedestal de maior dramaturgo do mundo, alguém para quem o mundo é um palco.
Além de obter o respeito de seus contemporâneos, até mesmo daqueles que o acusavam de “não saber o latim e o grego”, é um mestre autodidata que cativa audiências ao redor do mundo.
Continuamos “lendo Shakespeare sabendo que suas peças vão nos ler com maior energia ainda”. Para compreender a obra desse gigante da literatura universal e sua influência constante, estamos trazendo a Goiânia o projeto “Shakespeare em dois atos”, a ser realizado de 25 a 27 de novembro no Teatro do Sesc Centro – uma oportunidade imperdível de conhecer mais a imortal obra desse grande mestre.