Sabem os poucos que me lêem aqui que estou morando em Machida, subúrbio de Tóquio. E nessa temporada, não bebo saquê mas leio autores locais, como Tanizaki, Murakami e duas jovens escritoras nipônicas — Sayaka Murata e Natsu Miyashita, autoras de ˜Convenience store woman” e “The forest of wool and steel”, respectivamente. São talentosas escritoras da nova safra que ocupam meu tempo de leitura, entremeado dos valores tradicionais como Tanizaki e outros menos conhecidos.
Ocupo-me também em entender os que aqui chegaram e se encantaram com o Japão - como os portugueses (em geral com o Extremo Oriente): Camões, Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes. Há também Lafcadio Hearn, que leio sob a lupa de Donald Richie, na antologia que Richie preparou sobre os escritos de Hearn sobre o país e seu povo.
Hoje, acordei muito cedo (por volta de 3:30 da madrugada) para ver o jogo do Brasil contra a Sérvia. Foi muito bom, pelo resultado, mas causou-nos uma “ressaca” sem álcool… e aqui estamos, às 20h insones e sem perspectiva — minha mulher e eu.
Estive um dia desses numa feira do Brasil realizada aqui em Tóquio. Foi interessante notar que os empresários trabalham um mercado intitulado “da saudade”, porque baseado na vontade de consumir coisas do Brasil. Eu próprio, comi churrasco gaúcho e comprei biscoitos de polvilho, além de conviver com pessoas que gostam de samba… mesmo os nipônicos.
Com meu neto Rodrigo, curto um samba com nipônicos que amam a música brasileira (e dominam o estilo). Por falar em estilo, hoje de madrugada, vimos esse fenômeno de um jogador que já desprezei no passado e que se reabilita com este lance de classe. Um gol entre os dois que fez contra o time nacional da Sérvia.
Valeu a ressaca de chá e cafeína que tivemos por estarmos diante da Tv às 3:30 da madrugada.
A vida continua, com a lesão do Neymar e com a ressaca de cafeína que tive (a primeira, confesso!). As pessoas vem me cobrando muito posicionar-me sobre os fatos no Brasil. Justiça x Povo etc. Não creio ser sensato me posicionar, porque não posso influenciar em nada, com seis leitores ativos. As leituras de alguns analistas me agradam, como as de Martim Vasques e Paulo Polzonoff na Gazeta do Povo de Curitiba (os links estão no meu Twitter).
A esperança nunca desanima, dizia São Paulo Apóstolo, então, por ora não desisto do Brasil, mas tenho vontade de ficar por aqui mesmo em Machida, subúrbio calmo de Tóquio. Sinto-me unido ao Japão, como sei que foi o sentimento de Moraes e Hearn, apesar de todas as dificuldades de inserção e entrosamento que o país apresenta.
Depois do jogo, saí vestido com a camisa oficial da Seleção brasileira. Para meu desapontamento, ninguém fez sinal de ter notado que havíamos feito um jogo perfeito contra a Sérvia, ao contrário da adversária Argentina contra a Arábia Saudita.