Quando vim a Roma ainda jovem, não podia avaliar bem a dimensão da cidade e sua importância no mundo e na História. O que me restou na memória foi o mal-estar com os taxistas e a sensação de que todo mundo estava de algum modo envolvido em uma discussão em voz alta – dos casais aos políticos, passando pelos religiosos.
Se todos os caminhos levam à Roma, retorno por ser católico, por amar a poesia e a aventura. Venho por seus monumentos, praças, museus e galerias de arte. Com o respeito que esta cidade nos impõe, se comparada às demais: antes de Paris e qualquer outra – é a cidade, por excelência. Hoje, no limiar da velhice, me pergunto: qual é a minha Roma?
Como tantos que amam esta Urbe eterna, talvez eu possa repetir Goethe: Finalmente, estou na Capital do Mundo. Mais apropriado seria dizer, como Alceu Amoroso Lima: Estou na capital dos cristãos...Neste ano do Jubileu “Peregrinos da Esperança”, chego com indisfarçável alegria e com desejos de reafirmar ninha fé – afinal, o Jubileu é uma celebração religiosa que acontece desde o ano 1300 a cada 25 anos.
Com o tema deste ano, a Igreja nos motiva a alimentar a fé, a Esperança e a buscar um propósito, enfrentando os desafios da vida e aproveitando o que ela nos concede de melhor.
Os relatos dos escritores refletem o desejo de eternizar os momentos e os lugares onde moram ou que passaram a amar. Foi isso que levou o diplomata brasileiro Afonso Arinos a escolher como título de um de seus livros um palíndromo simples, mas que expressa seu amor por esta cidade – Amor a Roma, do qual Alceu disse ser “Um poema de beleza, ternura e lucidez intelectual, sobre esse milagre da Civilização de todos os tempos - que é Roma…”
Otto Maria Carpeaux, escreveu Caminhos para Roma: Aventura, queda e vitória do espírito. Judeu-austríaco, ele se convertera ao Catolicismo e iniciou sua aventura do espírito em Roma. Mais tarde, trabalhou na imprensa brasileira e foi militante do socialismo tupiniquim, ideologia dominante nos jornais de sua época. No entanto, é até hoje respeitado como icônico escritor e crítico literário. Mesmo sem confessar sua fé, declarava-se: “sempre disposto a prestar serviços úteis à causa católica à qual devotei a vida”.
Dos escritores que me motivam a descobrir a minha Roma, Goethe tem, de longe, a experiência mais aprofundada, seguido de Montaigne, Murilo Mendes e Afonso Arinos – todos expressaram muito bem seu amor por Roma. Eles inspiram “o viajante em busca desses antigos caminhos do Saber”, dos subterrâneos às cruzes das igrejas que se elevam pela cidade afora, indomável a um único olhar, com suas sete colinas.
Sinto-me hoje mais um peregrino em sua galeria secular, buscando experimentar, não definir. Minha Roma se constrói a cada passo, entre monumentos e silêncios. Neste Jubileu da Esperança, sigo o conselho do Papa Francisco tirado da frase do Apóstolo São Paulo: “a esperança não engana”. É o que desejo fazer nesses poucos dias em Roma.
A todos que entendem a viagem como arte da peregrinação, Roma propõe um diálogo entre a memória e o presente, com uma galeria de arte a céu aberto.
Ora, se viajar é transformar-se, mais do que ler, viajar permite um encontro íntimo do homem com a sua própria essência. Nestas linhas, começa, pois, a se desenhar a minha Roma– fugaz, mas eternizada.
🙏
Carpe Diem, Adalberto.
Peregrino da Esperança!