Durante mais de dois meses e meio vivi a embriaguez da redescoberta do idioma italiano, do contato com a arte, a arquitetura, as paisagens surpreendentes, com os vinhos e a culinária que só a Itália proporcionam.
Retorno ao lar como um peregrino que encontra o velho cantil com água fresca, ao lado do pão e do vinho, em sua cozinha, num ambiente acolhedor.
Em casa reencontro a familiaridade do ambiente, o afeto das pessoas queridas, as plantas do jardim e até a silenciosa companhia do velho e rabugento gato Lucky.
Volto a cuidar do jardim, a olhar para o velho tamboril imponente em sua velhice, a apreciar o encanto do canteiro que deixei com as mudinhas de salsa e manjericão ainda pequenas e que na volta estão enormes.
O jardim e o canteiro de temperinhos não são mais os mesmos, nem o cronista, porque o tempo nos transformou e agora eu os reencontro com um novo olhar.
Descobrimos em nós transformações difíceis de nomear, mas que estão lá, espalhadas em sabores, mapas, impressões, fotografias, vozes, memórias, afetos...
O que se deseja, depois de um périplo como este, é a continuação do milagre da vida. Pode ser superar uma rotina antiga que não é mais cabível, uma nova visão sobre um velho tema, um desejo a se realizar, um novo hábito adquirido ou uma amizade que agora mora em outro fuso horário.

Busco reencontrar os amigos queridos, os antigos hábitos, a comida simples de casa e o ritmo cotidiano, esse “nosso natural” que, por vezes, não valorizamos o suficiente e a viagem nos faz ressignificar.
Ao retomar o ritmo do dia a dia, constato que comodidade não se confunde com acomodação.
Recordando momentos significativos da viagem – paisagens, refeições, azeites e vinhos ou mesmo pequenas dificuldades no trânsito, minha mente parece me levar de volta aos caminhos percorridos, nessa fascinação pelos sublimes mistérios do mundo que parece não ter fim.
Ao longo da vigília da noite passada, minha memória musical me levou a uma música de Dominguinhos e Nando Cordel:
Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero, um abraço
Para aliviar meu cansaço...
Superada a exaustão da viagem, sinto-me revigorado para retomar tantos projetos arquitetados para o segundo semestre, com o coração abastecido de histórias e memórias, à espera de retornos emocionais intensos.
Com as memórias, viajamos de novo, mesmo quando repaginadas sem uma ordem clara, como o desejo de cultivar limão siciliano em meu pomar, depois de ter-me alegrado diante de tantas plantações daquela espécie no sul da Itália.
Quero dar ao meu velho limão “galeguinho” a companhia nobre do limão que me faz recordar esses momentos agradáveis.
Os cuidados com o jardim e a horta se juntam a outras pequenas tarefas diárias que me reconectam com a rotina, com minhas horas divididas entre livros e plantas.
Agora mesmo, retomo leituras e estudos sobre a obra de Adélia Prado, preparando-me para palestrar no evento “Clarice, Hilda e Adélia: Vozes Femininas na literatura”, nos dias 03 e 04 de julho. Ficarei muito honrado de encontrar você lá, meu querido leitor.
Original publicado no Jornal O POPULAR, de Goiânia, 30/6/2025.
Parabéns meu amigo e adorador como eu de Pé de Limões Sicilianos - levei uma baciada na festa junina da família sábado.
Feliz dia (ou noite) aí na Itália.
Sonho de uma vó Italo-Brasileira?
Pissar no solo Italiano e agradecer aos meus "nonos" o legado que nos deixaram - A Vida!!
Ah, foi uma delícia acompanhá-lo durante a sua aventura... e continuarei acompanhando o seu olhar minucioso que nos traduz os pequenos milagres do cotidiano. Abraços, Adalberto!