Comecei a reler os diários de viagem que eu li quando jovem, para ter elementos para este diário de uma viagem ao Extremo Oriente. Por ora, só tenho rotinas e preparos mentais para viajar para tão longe de casa. Penso por exemplo no Goethe que escreveu “Viagem à Itália”… abro ao acaso na página 285:
A Itália sem a Sicília não impressiona muito a alma: aqui é que se encontra a chave de tudo o mais.”
Creio que “o asno solene” que esteve na Itália de setembro de 1786 a abril de 1788 não sabia da máfia siciliana e nem me interessa pesquisar, mas por ser aquele um diário bem completo com quase 600 páginas, interessa-me ao pensar em fazer um diário de uma viagem ao Extremo Oriente. Depois, penso em Albert Camus e seu Diário de Viagem, que me fez escrever um poema sobre a América.
“O que toda a gente negara ao menino,
sob a costa americana, eu —
um pobre diabo da Vila Jaiara, olhei:
a harmonia da linha do horizonte,
o skyline da vila enorme e sonhei,
como sonham outros em outras luas,
anônimos em suas quitinetes, sonhando
palácios da lua, luando neon multicor.”
Ver uma boa resenha do livro de Camus aqui.
O fato de eu ter viajado muito não conta, a não ser que eu me lembre — o que está cada vez mais difícil.
Graças a Deus, tenho isso — a memória digital (Blog)
Lembro-me de alguns momentos na França, na Itália, incluindo memórias de uma palestra sobre a viagem em busca de James Joyce em Trieste. (Ver isso aqui)
Agora, é diferente. Sinto-me na pele de Venceslau de Morais que sai de Portugal para ir ao Japão, em 1889; e o Japão o encanta, a ponto de ele regressar várias vezes nos anos que se seguem no exercício das suas funções. Em 1897, visita o Japão, na companhia do Governador de Macau, José Maria de Sousa Horta e Costa, quando foi recebido pelo Imperador Meiji. No ano seguinte abandona Atchan e os seus dois filhos, e muda-se definitivamente para o Japão, como cônsul em Kobe.
Confesso não desejar o destino do lusitano que mais divulgou o Japão para o Ocidente, mas vou em frente; tampouco desejo me tornar um Lafcádio Hearn, grande divulgador da cultura oriental no mundo anglo-saxônico.
Enfim, desejo apenas que meus seis benévolos e fieis leitores continuem me acompanhando neste Diário da viagem ao Extremo Oriente. Sayonara.
Que seja uma ótima viagem!
Boa viagem, mestre. Acompanharei por aqui.