O ECO EM SIRACUSA
Poema de Murilo Mendes*
Nas tuas cavernas oblongas
Há um deus que se levanta,
Reconstituído no eco:
Toquemos o mundo com a voz.
Jardins que explodem, latomias guardam
O sopro físico da passagem
De antiga morte em Siracusa:
Violenta marcha a história nas tuas lajes,
Súbito estanca.
Eis que o drama Se desarticula
Porque o deus ministra
Oráculos espessos:
Mas o eco é forte,
Só ele se mantém
Mais vivo do que o Augúrio original.
Foi tua força extinta, Pétrea Siracusa,
Mas o gongo aéreo,
Mas o longo eco Te reconstitui.
Áspera voz, duplo eco
Habitado pelo deus
Que subsiste ainda
No homem inumano
Eco.