"Poetas amam viagens" – dizia Henri Michaux, o belga-francês, autor de "Um Bárbaro na Ásia". E prosseguia: “prefiro as viagens de trem, porque o devaneio é inspirado nas paisagens que desfilam...”
Desde a infância, a paixão por viagens me acompanha e os percalços do caminho se esvaem com a chegada ao destino e nas descobertas que faço.
Entretanto, antes de cruzar a fronteira do desconhecido, embarco em uma jornada interior. Construo um mapa mental dos lugares que almejo conhecer, guiado por autores que os habitaram e os visitantes que os imortalizaram em livros.
Assim fiz com várias cidades brasileiras e, com mais afinco, com a Ásia. Li com entusiasmo autores japoneses, coreanos e chineses, e a realidade se revelou um fascinante contraponto à ficção, enriquecendo meu "Diário do Extremo Oriente".
Agora, o sul da Itália me chama...
Retomo o ritual que antecede nossas viagens: recriar o país em minha mente, revisitando a literatura italiana, familiarizando-me com a língua, a música e os vídeos que me aproximam da alma do povo italiano.
Mergulho em livros, guias e romances por meses, tecendo um mosaico de imagens, sons e sensações que me conduzirão pelas ruas das cidades sonhadas. Mesmo com interesses diferente, minha mulher e eu nos complementamos na viagem (e na vida).
A cada passo, a linha de fronteira entre a realidade e a fantasia se amplia, e a expectativa se transforma em antecipação. Sei que a paisagem real nem sempre espelha o retrato que construí, mas a magia dessas contradições me encanta e me leva a questionar meus próprios valores, superando preconceitos e ampliando a compreensão sobre as características das diferentes culturas.
Mesmo no Brasil, é inegável que uma viagem pode impactar o viajante ao mostrar-lhe realidades díspares, em paisagens diversas, diferentes condições socioeconômicas e formas diferentes de viver a vida.
Particularmente, prefiro viagens de longa duração, em geral que duram meses, sempre precedidas por essa profunda imersão cultural que tem mostrado o encanto das diferenças entre ficção (e poesia) diante da realidade vivida no país estrangeiro.
Durante a preparação para conhecer o sul da Itália, me impressionaram particularmente a abordagem de J.W. von Goethe, com sua “Viagem à Itália” (1786-1788) e as descrições da mineira Isabela Discacciati (2024) – escritores que, mesmo separados por dois séculos, me oferecem novas lentes para desvendar a pátria de Dante, Torquato Tasso e Lampedusa.
A jovem autora Isabela, mineira de Barbacena que vive na Itália, combina sua experiência pessoal com pesquisas em turismo, arquitetura e história, resultando em um texto saboroso com seu livro “Para Além das Margens: A Itália de Elena Ferrante”.
A um mês de fechar as malas, acompanho Isabela pelas ruas de Nápoles e pela ilha de Ischia, tão bem descritas na tetralogia de Elena Ferrante que começa com “A amiga genial”, aliás, tema de uma série televisiva [na HBO Max].
Essas experiências de preparação para a viagem, as aventuras e descobertas no sul da Itália serão temas de hoje em diante, pelo próximas semanas. Arrivederci!
Bom demais, mestre!
Lindo de Viver!
Vai com Deus.